terça-feira, 28 de setembro de 2010

Salva-Vidas de Rodeio: Trabalho Bruto

E aí, vai encarar? São só mil quilos de músculo e braveza
indo pra cima do peão. E olha o Dici ali, doido que só,
chamando a atenção do bitelo pra salvar a pele do peão.
Famosos nos EUA, irmãos Birtche são desconhecidos aqui
Embora morem em Maringá há muitos anos, os irmãos Vlaudemir e Valdecir Birtche saem pelas ruas sem serem reconhecidos, pouca gente sabe em que trabalham e quase ninguém os cumprimenta. Porém, eles já foram capa de revista nos Estados Unidos, temas de matérias nos jornais e TVs americanos e são parados para dar autógrafos.

Fora de Maringá, Vlaudemir e Valdecir são Dinho e Dici, top do ranking de salva-vidas de rodeios, primeiros sul-americanos a atuarem nos Estados Unidos e já trabalharam em vários países. Hoje, à frente de uma organização de rodeio, eles se empenham na profissionalização da arte de salvar vidas.

Dinho e Dice são o braço brasileiro da International Pro Rodeo, terceira maior organização de rodeios nos Estados Unidos, com atuação no Canadá e na Austrália. E, paralelo à atividade como gestores, atuam ministrando cursos para os salva-vidas que vão trabalhar no Brasil.

"Antigamente, as pessoas começavam nessa área por serem aguerridas, corajosas, mas hoje o que vale mesmo é a técnica", diz Vlaudemir, o Dinho, 43 anos, nascido em Sarandi. Antes, ele era peão e teve que deixar as competições em 1995 em razão de uma contusão grave. Como não queria se afastar dos rodeios, foi convidado para atuar como salva-vida e gostou.

Estudos já mostraram que 80% dos casos em que o peão fica machucado poderiam ser evitados se os salva-vidas tivessem uma atuação correta.

"Nos interessamos pela técnica desde o início", explica Dici, de 35 anos. Ele tinha 19 anos, estudava Administração na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e não tinha o menor interesse pelos rodeios quando foi convidado a formar dupla com o irmão.

Titubeou, mas decidiu analisar a possibilidade, porém antes se municiou de um pacote de fitas de vídeo trazidas dos Estados Unidos, passou um mês analisando cada situação, o posicionamento correto e os meios de afastar o animal sem que ele pisasse no competidor. Quando atuaram juntos pela primeira vez, os irmãos surpreenderam peões, organizadores e plateia. Nascia ali a dupla Dinho e Dici.

"O salva-vidas é o que faz o trabalho mais arriscado no rodeio", diz Dici. "É preciso ter muitas habilidades, como ginga, criatividade, reflexo, pensamento rápido e, principalmente, coragem para enfrentar os touros de mil quilos".

Segundo ele, "enquanto o peão está preocupado com o prêmio e com o show, nós nos preocupamos com a vida, temos que permanecer concentrados".

Para que o sucesso dos irmãos Birtche cruzasse fronteiras, eles pagaram caro. "Sonhávamos com os rodeios americanos ¿ lá existe há mais de cem anos e alcançou alto nível de profissionalização -, mas quando chegamos fomos lavar pratos", diz Dinho.

Para trabalhar lá, eles tiveram que começar tudo de novo, fazer cursos, passar por testes, serem analisados em oito competições para serem aceitos na Professional Rodeo Cowboys Association, a PRCA, a mais tradicional associação de rodeio do mundo.

Uma vez dentro, viraram sucesso em terras americanos e atuaram também na Guatemala, México, Canadá e Austrália, foram os salva-vidas oficiais da final da Copa do Mundo da PBR, em Barretos, no ano passado.

Além de continuarem salvando vidas e dirigir a IPR no Brasil, Dinho e Dici estão formando uma nova geração de salva-vidas. E aproveitam o prestígio conquistado para tratar da organização da categoria.

"Hoje, os salva-vidas são autônomos, não somam benefício para a aposentadoria e, se acontecer de se ferirem, não têm apoio dos organizadores", afirma Dici. "Lutamos pela regulamentação da profissão, pelo ensino de técnicas, pelo credenciamento".


Dici e Dinho, em imagem promocional: dupla de irmãos salva-vidas fez fama atuando nos EUA.

Assessoria: Daniele Sanção
Matéria: Luiz de Carvalho
Jornal: O Diário de Maringá

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